quarta-feira, 19 de maio de 2010

SAWABONA - Sobre estar sozinho

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste
milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas
transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos
modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de
estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um
responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que
nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de
século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração
e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos
completos.
Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que,
historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas
características, para se amalgamar ao projeto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro
tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia
prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o
amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a
companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as
pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas,e aprendendo a
conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber
que se sentem fração, mas são inteiras.
O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma
fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um
companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir
se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a
ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta
da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.
Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua
individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver
sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá
dignidade à pessoa.
As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o
ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do
século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir
não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na
verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para
estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito
só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo
quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo
de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo
ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes
você tem de aprender a perdoar a si mesmo...
Caso tenha ficado curioso em saber o significado de SAWABONA,é
um cumprimento usado no sul da África e quer dizer "EU TE
RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".
Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é "ENTÃO, EU
EXISTO PRA VOCÊ"

Flávio Gikovate, médico psicoterapeuta

CONHECIMENTO BOM, É CONHECIMENTO MOSTRADO E
REPARTIDO COM O MUNDO!

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